Lar Santana fecha as portas depois de 96 anos

Missa de encerramento de atividades teve coral e presença familiares de meninas atendidas pela instituição

O lar Santana, instalado em um quarteirão quadrado na Vila Tibério, deixa de funcionar oficialmente nesta segunda-feira, dia 15. As cerca de 40 meninas vão agora para outras escolas.

O encerramento das atividades teve missa especial no último dia 8, segunda-feira, celebrada pelo padre Júlio César Melo Miranda, da igreja Coração de Maria, que fica no mesmo bairro.

Da celebração participaram 17 meninas em um coral que entoou os cânticos da missa e duas adolescentes que auxiliaram o padre no altar. Também participaram familiares das meninas atendidas e ex-alunas do lar.

O lar é mantido pela Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição (FIC), que tem sede em Araraquara. Em Ribeirão Preto a direção é exercida por três irmãs já idosas que têm dificuldades para manter os trabalhos.

Entre os motivos alegados para o fim das atividades estão a necessidade de reformas estruturais, além de obras de acessibilidade para adequação às exigências do Corpo de Bombeiros. Há ainda a falta de vocações, o que tem limitado a existência de religiosas para manterem a instituição.

Mas uma das principais alegações é que o Lar foi criado para atender a meninas carentes da periferia e hoje está praticamente no Centro da cidade, provocando o desvio de função.

Procurada por telefone e e-mail, a entidade Irmãs Franciscanas não se manifestaram para fornecer várias informações. Assim, não se sabe qual destinação terá o prédio de 6,6 mil metros quadrados, além de área externa com plantação e criação de aves.

“É um momento de alegria por estarmos juntos, e um momento de tristeza por estarmos encerrando as atividades. Quero agradecer a população de Ribeirão Preto que tem um coração grande e muito nos ajudou”, disse a irmã Antônia Eleny Peron.

 

Comunistas

Por ter parte de sua história intimamente ligada à luta contra a ditadura, a missa reuniu três comunistas históricos. Participaram da celebração Áurea Moreti, Maria Aparecida dos Santos, a Cidinha, Mário Lorenzato e Aiala Rocha, viúva do comunista Vanderlei Caixe.

Eles foram à missa a convite do jornalista Saulo Gomes, que prepara o lançamento de um livro sobre a madre Maurina Borges da Silveira, que foi presa e torturada justamente por ceder espaço do Lar Santana a ativistas de esquerda. Eles ocupavam no local uma sala no porão, onde se reuniam e produziam impressos.

“Este é um momento histórico. Temos quatro comunistas em uma missa”, disse Saulo. Ele também levou à celebração Eduardo Silveira Martins, coordenador da Comissão da Verdade Regional e Anderson Romão Polverel, coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB de Ribeirão Preto.

Fonte – Revide Online/Guto Silveira. Fotos: Júlio Sian

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