O enredo chega a ser assustador, se comparado aos dias atuais, no qual casais gays podem circular livremente, adotar crianças e até mesmo formalizar uma união civil. Para se ter uma ideia, existia um órgão intitulado Delegacia de Costumes, que na década de 1970 foi gerida por Djair Lopes Diniz, responsável pela vigilância de comportamentos “fora do padrão”. “O ano de 1970 foi emblemático. Uma resolução da Secretaria de Segurança Pública (SSP) proibiu que os travestis e homossexuais fossem vistos nas ruas durante o carnaval no estado. Seriam presos até os que observassem, ‘quietinhos’”, destaca o historiador Sandro Silva, que concluiu o mestrado com a temática no programa de pós-graduação em história da UFRPE, em 2011. O número de gays presos é uma incógnita.
A ausência de trabalhos em curso da Comissão da Verdade de Pernambuco, que não possui uma única comissão temática nem realizou qualquer audiência sobre o tema, é um vazio que pode ser preenchido por outras frentes. A Comissão Nacional da Verdade é um dos exemplos. O livro Ditadura e homossexualidade, recém-lançado pela EdUFSCar, e organizado pelos historiadores Renan Quinalha e James Green, foi anexado ao relatório do colegiado nacional, que investigou os crimes políticos praticados pelo regime no período. Nenhum artigo do livro menciona qualquer episósio no estado de Pernambuco.
Ao Diario, James Green, que é professor de história da Brown University, nos Estados Unidos, relata que o clima de perseguição aos gays também era comum nos partidos que faziam oposição ao regime miliar. “Infelizmente, as esquerdas brasileiras nos anos 1960 e 1970 ainda mantiveram ideias conservadoras sobre o tema”. Ele cita o caso de Hebert Daniel, militante da mesma organização da presidente Dilma Rousseff (PT), o Comando de Libertação Nacional (Colina). “Em 1967 e 1968, Herbert teve relações homossexuais e percebeu que o grupo não aceitava a homossexualidade. Ele quis ser um revolucionário, entao abandou a sua sexualidade durante cinco anos”.
Fonte – Diário de Pernambuco