O governo americano entregou à presidente chilena, Michelle Bachelet, na sexta-feira (23), um último lote de documentos “desclassificados”, que confirmam que o ex-ditador Augusto Pinochet ordenou o assassinato do opositor Orlando Letelier, em 1976, em Washington – informou o Departamento de Estado.
A secretária de Estado adjunta, Heather Higginbottom, entregou os documentos durante uma cerimônia no local do atentado, na capital americana, liderada por Bachelet, dois dias depois do 40º aniversário do crime.
Bachelet – ela mesma torturada na ditadura de Pinochet (1973-1990) – manifestou sua esperança de que os novos documentos “nos permitam avançar em termos de verdade e de justiça”.
Ela também agradeceu aos Estados Unidos pela colaboração nas revelações sobre o caso, ressaltando que “a busca da verdade sobre o que aconteceu (…) também se transformou em um símbolo de solidariedade fraterna” entre os dois países.
“A figura de Orlando continuou crescendo nesses 40 anos, porque ele foi um exemplo de dignidade, lealdade e valentia. Porque sua voz nunca temeu contra a tirania, nem a morte para defender os que sofriam violência política e econômica nas mãos da ditadura”, disse a presidente.
Depois, ela foi a uma exposição fotográfica em homenagem a Letelier na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Em outubro passado, o secretário John Kerry entregou a Bachelet, em Santiago, mil documentos “desclassificados” sobre violações aos direitos humanos durante o regime militar, incluindo o assassinato de Letelier. Pouco tempo depois, seu filho Pablo Letelier revelou que esses arquivos apontavam Pinochet no atentado.
Os novos papéis agora parecem confirmar essa versão. Segundo o Departamento de Estado, esses documentos são a “última porção de documentos relacionados ao assassinato” de Letelier.
Os novos arquivos incluem um informe da Agência Central de Inteligência (CIA) de 1987. O texto conclui que Pinochet orquestrou o atentado nas ruas de Washington, segundo o Arquivo de Segurança Nacional, um centro de documentação da George Washington University.
“Vemos como evidência convincente que o presidente Pinochet ordenou pessoalmente a seu chefe de Inteligência que lançasse o assassinato”, relatou a CIA no informe, de acordo com o especialista Peter Kornbluh, do Arquivo de Segurança Nacional.
Orlando Letelier foi chanceler do governo de Salvador Allende (1970-1973) e era um dos opositores mais ferozes ao sanguinário regime militar e com maior visibilidade internacional.
Também morreu a cidadã americana Ronni Moffitt, quando explodiu uma bomba colocada em seu veículo por um grupo de agentes da Dina, a temida polícia secreta de Pinochet.
A explosão, em 21 de setembro de 1976, ressoou no coração de Washington, na área das embaixadas. Michael Moffitt, colaborador de Letelier e marido de Ronni, que também estava no carro, ficou gravemente ferido.
Fonte – Diário Catarinense