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Dallari (foto Cecília Bastos – usp imagens)
Em 1980, na visita do Papa João Paulo II ao Brasil, Dallari foi incumbido de fazer leitura representando Comissão de Justiça e Paz. E eis que é agredido para não comparecer. Mas, foi!
Quando o Papa João Paulo II veio ao Brasil, em 1980, o jurista Dalmo Dallari, professor titular da USP, foi designado para fazer uma leitura na primeira agenda do sumo-pontífice em São Paulo: uma missa no Campo de Marte. Dallari representaria a Comissão Justiça e Paz (CJP), braço da cúria metropolitana voltado para a defesa dos direitos humanos, dos presos políticos e de seus familiares, que o arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns havia criado em 1972. Dallari havia sido seu primeiro presidente, por mais de um mandato, e, naquele momento, ainda era seu membro mais conhecido.
Na véspera, Dallari foi ao Campo de Marte para se inteirar dos preparativos e da liturgia do ato. Quis se certificar quantos minutos teria direito a usar para que pudesse fazer os últimos ajustes no texto, já escrito. Informações reunidas, foi embora para casa, no comecinho da noite. Ao chegar, bem em frente ao portão, levou uma coronhada e foi enfiado dentro de um carro. O grupo de agressores o levou para um terreno baldio na Avenida Juscelino Kubitschek e o espancou até deixá-lo caído, sozinho e ensanguentado.
A muito custo, Dallari se levantou e andou até a avenida. Demorou para que um motorista parasse e aceitasse levá-lo, machucado, de volta para casa. Foi a esposa quem o levou ao pronto-socorro. Durante todo o trajeto e também no atendimento médico, a maior preocupação de Dallari era com a missa. Ele precisava estar a postos para ler seu texto, uma agenda importantíssima, de alcance internacional, que agora talvez repercutisse ainda mais.
No dia seguinte, de cadeira de rodas, foi impedido de subir ao palco pelo acesso normal, nos fundos, por um militar. Amigos ergueram a cadeira de rodas nos braços e ele conseguiu chegar à tribuna. Levantou-se, amparado pelos colegas José Carlos Dias e Flávio Bierrenbach, ambos da CJP.
O Papa se assustou com os machucados, curativos e ferimentos e perguntou o que havia acontecido. Foi Dom Paulo quem respondeu, atribuindo o atentado a grupos de extermínio ligados à ditadura. “Fizeram isso com ele porque não tiveram coragem de fazer comigo, mas é um recado para mim”, acrescentou o arcebispo.
Fonte – Jornal GGN