Essa versão é admitida pela família do ex-reitor e veio a público na semana passada em Brasília no momento de instalação da comissão. Durante a cerimônia, João Augusto de Lima Rocha, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e biógrafo de Anísio Teixeira, anunciou que tinha o conhecimento do assassinato conforme confidenciado a ele em relatos diferentes pelo ex-governador da Bahia Luís Viana Filho (1967-1971) e pelo professor e crítico literário Afrânio Coutinho.
Segundo a versão oficial, o ex-reitor morreu após cair acidentalmente no poço do elevador de serviço do prédio onde morava Aurélio Buarque. Conforme Carlos Antônio, a família sempre desconfiou da versão, mas temia buscar investigação aprofundada.
A suspeita sobre as circunstâncias da morte de Anísio Teixeira será investigada pela Comissão de Memória e Verdade da UnB, que tem o nome do ex-reitor, em uma homenagem a ele. A informação é do historiador da UnB José Otávio Nogueira Guimarães, coordenador de investigação da comissão.
– Anísio Teixeira era alguém que incomodava. Ele foi cassado (depois do golpe militar de 1964), mas não tinha posições de esquerda explícita. Tinha, porém, projetos e uma forma de pensar que certamente não agradava ao regime – avalia o historiador.
Conforme o professor João Augusto, quem primeiro confidenciou a versão de assassinato foi Luís Viana Filho, que a época (dezembro de 1988) escrevia o livro Anísio Teixeira: a Polêmica da Educação (Editora Unesp). Viana, que apoiou o golpe e era próximo do marechal Castello Branco (primeiro presidente militar), “teve informação de que Anísio não tinha morrido, estava detido em instalações da Aeronáutica no Rio.”
O segundo depoimento foi de Afrânio Coutinho (em março de 1989) na casa e na presença de James Amado (irmão de Jorge Amado) e da sua esposa Luiza Ramos (filha de Graciliano Ramos).
– Ele me disse que presenciou a necrópsia de Anísio Teixeira. Pelos ossos que estavam quebrados de Anísio, ele não admitia que tenha sido queda. Quase todos os ossos estavam quebrados. A versão era de que ele foi sequestrado no caminho (à casa de Aurélio Buarque) e submetido à tortura”.
Conforme o relato de Afrânio, “Anísio também disse a ele que estava recebendo telefonemas com ameaças.”
Carlos Antônio Teixeira acrescenta que no momento do suposto sequestro, Anísio tinha em sua pasta um texto do Partido Comunista Brasileiro, o Partidão (que estava na clandestinidade, mas era contra a guerrilha). O texto, que desapareceu, foi dado ao ex-reitor pelo próprio filho – ele, sim, militante do PCB.
A Comissão de Memória e Verdade da UnB deverá fazer a primeira reunião de trabalho na próxima semana e terá acesso ao acervo do Arquivo Nacional, entre outros, além de ser apoiada pela Comissão da Verdade do governo federal, a quem deverá encaminhar o relatório final. O Ministério da Defesa informou que não irá se manifestar sobre o assunto e que o caso deve ser tratado no âmbito da Comissão da Verdade.
“Meu pai incomodaria até regime de esquerda”, diz filho de Anísio
Ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), Anísio Teixeira era um pensador independente e suas opiniões desagradavam pessoas de diferentes ideologias. Assim o descrevem seu filho, o psiquiatra Carlos Antônio Teixeira, e o biógrafo João Augusto de Lima Rocha, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
O espírito crítico de Anísio Teixeira causava desconforto a pessoas de diferentes orientações ideológicas.
– Meu pai incomodaria até em um regime de esquerda. Ele era antidogmático por excelência – disse à Agência Brasil Carlos Antônio.
– Ele era um livre pensador, mas para a repressão era visto como um educador comunista – lembra. Anísio também era criticado por setores conservadores da Igreja Católica porque defendia o ensino público laico.
– Ele estava com 70 anos quando morreu e preparava-se para ingressar na Academia Brasileira de Letras (ABL). Sua candidatura não era bem acolhida pelos militares – salienta João Augusto Rocha.
Fonte – O Globo