A montadora Volkswagen foi questionada, na semana passada, pela demissão do historiador que liderava as pesquisas sobre episódios polêmicos de seu passado, incluindo a colaboração com o regime militar brasileiro (1964-1985).
A empresa alemã manteve o olhar no retrovisor durante as últimas duas décadas, sendo elogiada por ter investigado o uso de escravos e seus laços com o nazismo.
Mas a súbita e recente saída do historiador Manfred Grieger foi entendida como um sinal de que a Volkswagen pode desacelerar as pesquisas. Isso afetaria o estudo sobre a ditadura brasileira.
Especula-se que Grieger tenha sido demitido depois de criticar um estudo sobre a Audi, subsidiária da Volkswagen. A pesquisa não teria, para ele, se aprofundado o bastante na relação da firma alemã com o nazismo.
A empresa nega ter encerrado seu contrato com Grieger por não gostar da crítica. O historiador, por sua vez, recusou-se a comentar.
Desgostosos, um grupo de mais de 80 pesquisadores escreveu uma carta aberta em defesa de Grieger, questionando o interesse da Volkswagen de continuar a investigar seu passado no Brasil.
Um dos líderes foi Hartmut Berghoff, do Instituto de História Econômica e Social da Universidade Georg-August, em Göttingen.
À Folha ele diz que a saída de Grieger foi “injusta”. A crítica sobre o estudo da Audi poderia ter sido uma razão para sua demissão, afirma, somada a outros atritos.
”Ele fez questão de manter os padrões acadêmicos e, simultaneamente, foi bastante leal à Volkswagen. Tenho certeza de que algumas pessoas não gostaram daquilo ou não entenderam o valor de sua abordagem”, diz.
Berghoff afirma ainda que a montadora alemã é um “modelo” para outras firmas no quesito pesquisa histórica. “A maior parte das empresas prefere o silêncio.”
Fonte – Folha de SP