O Brasil perdeu, na semana passada, um personagem da sua história recente que, para além de seus méritos como religioso, desempenhou um papel fundamental no reconhecimento de alguns valores até então relegados pela sociedade brasileira.
Trata-se de dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, que foi um dos principais responsáveis pela derrocada do regime militar, ao oferecer uma resistência pacífica, mas firme, aos métodos usados pela ditadura para se impor aos brasileiros.
Naquele momento, o Brasil tinha poucas pessoas em condições de levantar a bandeira dos direitos humanos, que estavam sendo desrespeitados pelos militares, com prisões arbitrárias, prática de torturas e assassinato de opositores do regime.
Em seu trabalho pastoral, dom Paulo visitava as prisões e verificou que presos políticos estavam sendo torturados. Quando foi elevado a cardeal, criou a Comissão Justiça e Paz, para atender os perseguidos do regime, independentemente da fé de cada um.
Confrontou religiosos e governantes comprometidos com o regime, generais e o próprio presidente Garrastazu Médice. O ápice de sua ação se deu com a morte, na prisão, do jornalista Vladimir Herzog, apresentada como suicídio, que ele contestou.
A missa de 7º dia de Herzog foi um dos maiores atos públicos de condenação à ditadura. Cerca de 8.000 pessoas compareceram à catedral da Sé para assistir a uma missa ecumênica oficiada por dom Paulo, o rabino Henry Sobel e o pastor Jaime Wright.
Na ocasião de uma visita do presidente Jimmy Carter, dos EUA, ao Brasil, dom Paulo se encontrou com ele, que defendia os direitos humanos e a abertura democrática nos países da América Latina sob ditaduras, processo iniciado pelo presidente Ernesto Geisel.
Foi preciso a ditadura para dom Paulo mostrar que era imprescindível. Ele reabilitou a Igreja de seu comprometimento com o golpe de 1964.
Fonte – O Tempo