EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA
Quem está na faixa dos quarenta e poucos ou dos cinquenta ou mais anos, com certeza conhece a música título deste post. Sucesso musical de 1972, foi a composição mais conhecida do saudoso Sérgio Sampaio, um dos “cantores malditos” da MPB da década de 70. Rótulo este que incluia ainda Jards Macalé, Jorge Mautner, Luiz Melodia, Tom Zé e Walter Franco. Apesar dessa turma irreverente, Sérgio era considerado o mais maldito dos “malditos”. Conterrâneo de Roberto Carlos, Sérgio Sampaio foi descoberto por Raul Seixas, com quem veio posteriormente a fazer algumas parcerias em composições musicais. Morreu em 1994, no Rio, aos 47 anos de idade, relegado ao esquecimento e ostracismo. Coisa normal nesse Brasilzão de Meu Deus e dessa mídia venal, principalmente no aspecto cultural, que maltrata patrícios geniais e lambe-botas de tantos gringos medíocres. Nelson Rodrigues infelizmente tinha razão: sofremos do complexo de “vira-latas”.
Hoje me lembrei dessa música porque ao arrumar o “quartinho da bangunça”, encontrei um recorte de um jornal da época (anos 70) onde eu aparecia numa foto de uma passeata estudantil contra a ditadura. Aliás, passeata esta dispersa à base de gás lacrimogênio, cães pastores alemães e cacetete, muito cacetete. Apesar de tudo isso, a gente botava o nosso bloco na rua. Mesmo sem fugir da briga, é claro que morria de medo quando o pau quebrava, pois apesar de estar do lado da esperança por dias melhores, naqueles anos de chumbo, ao contrário dos filmes, os artistas morriam de verdade e quem não sentia medo? Eram meninos e meninas desarmados fazendo passeatas contra uma repressão armada e violenta. O importante é que independente de qualquer coisa, estávamos presentes no próximo movimento. Dei muita sorte, pois apesar de participar ativamente do movimento estudantil no final daquela década (UBES, DCE, UEE, UNE), nada de mal aconteceu comigo. Por outro lado, muitos colegas nunca mais eu ví na vida pois “foram sumidos”.
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Quando relembro de tudo isso, faço um desagravo à memória desses brasileiros que lutaram por uma pátria sem grilhões e sem ditadura. Que sonharam com a volta da democracia em nosso País e que foram mortos por isso. Vamos botar nosso bloco na rua para não deixar que essa “Comissão da Verdade” não se transforme na “Comissão da Mentira”. Que ela não faça do jeitinho brasileiro um instrumento para chegar a conclusão de que houve torturados, mortos e desaparecidos políticos nos vinte anos de ditadura no Brasil, sem apontar um nome de torturador ou assassino sequer.
Bem, curtam o Sérgio Sampaio no vídeo, pois recordar é viver…
Fonte – Blog Luis Nassif Online