“Minha arcada girou para o lado, me causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte do dente. Me deram um soco e o dente se deslocou e apodreceu”, relatou, segundo o documento. Ela conta ainda que os torturadores ameaçaram agredi-la no rosto, dizendo que, depois deformada, “ninguém ia querê-la”. As sequelas no maxilar só teriam sido corrigidas depois que ela assumiu cargos no governo Lula, em 2002, por meio de cirurgias.
No Rio para reunião sobre segurança na Rio+20, o ministro da Defesa, Celso Amorim, não quis comentar o assunto.
– Não vou comentar isso. Se ela não comentou, eu não vou comentar. Isso são fatos da História, eles vão aparecendo e cada cidadão forma sua opinião sobre isso. Acho que a Comissão da Verdade é para justamente reestabelecer a verdade e fazer com que as pessoas conheçam os fatos sob todos os ângulos. Acho que é isso o que eu tenho a dizer sobre isso.
O ministro falou ainda sobre a informação de que o Ministério da Defesa recorreu a brechas legais para ampliar o segredo de documentos militares.
– Estamos trabalhando com total transparência. A Lei de Acesso à Informação está sendo aplicada de maneira rigorosa. Obviamente aquilo é uma instituição muito grande. Mas nós vamos ter que trabalhar para assegurar que a lei seja cumprida na sua plenitude na sua letra e no seu espírito. O ministério não ampliou segredo de nenhum documento. O que aconteceu é que a lei estabeleceu três niveis de documento e acabou com uma categoria, que eram os confidenciais. Uma boa parte dos confidencias foi considerado ostensivo, pois as razões para serem considerados confidenciais já não existiam mais. Uma outra parte transformou-se em reservado. Havia aqueles documentos confidencias para os quais ainda se justificava o prazo de sigilo originalmente estabelecido, que era de dez anos. Esse prazo foi então mantido. Mas nenhum documento terá o prazo de sigilo aumentado para além desses dez anos. Ou o prazo foi reduzido, ou eliminado, ou mantido.
OAB-RJ: tortura aumenta responsabilidade da Comissão da Verdade
O presidente da OAB do Rio de Janeiro (OAB-RJ) Wadih Damous disse nesta segunda-feira que a revelação dos detalhes das torturas aumenta a responsabilidade da Comissão da Verdade. Segundo ele, é muito difícil conter a “indignação e o nojo” diante do relato porque “são sofrimentos extraordinários que não encontram paralelo no cotidiano de nossas vidas”.
– A indignação e o nojo a esses carrascos aumentam quando sabemos que muitos outros passaram pelos mesmos suplícios e que os verdugos, de acordo com o Supremo Tribunal Federal, não irão a julgamento – disse ele.
Periódicos como o argentino Clarín, o espanhol ABC e o espanhol El Mercúrio também repercutiram a divulgação das diferentes formas de tortura sofridas por Dilma. Eles ressaltaram o ineditismo das revelações.
Fonte – O Globo