Corpo do economista Paul Singer é velado em São Paulo

Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Singer era doutor em sociologia e foi um dos precursores do conceito de economia solidária no Brasil.

corpo do economista Paul Singer, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), que morreu na noite desta segunda-feira (16), aos 86 anos, começou a ser velado por volta das 9h40 desta terça-feira (17), no Cemitério Israelista do Butantã, Zona Oeste de São Paulo. O enterro deve acontecer à tarde, no mesmo endereço.

Singer estava internado no Hospital Sírio-Libanês e teve uma infecção generalizada. De acordo com o hospital, Singer morreu às 20h10.

Familiares e políticos, autoridades e intelectuais, muitos deles ligados ao PT, compareceram ao velório para prestar as últimas homenagens.

Corpo de Paul Singer é velado em São Paulo (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Corpo de Paul Singer é velado em São Paulo (Foto: Tatiana Santiago/G1)

“[Foi um] privilégio de ter tido um grande pai, uma pessoa maravilhosa, tudo o que ele demonstrava pra fora era exatamente o que ele era na intimidade, uma pessoa íntegra, cuidadosa, atencoisa, carinhosa”, afirmou a filha mais nova de Paul, Helena Singer.

Segundo Helena, o pai sofria de Alzheimer havia cerca de um ano.

 Paul Singer em 2014, durante participação no Fórum Social Temático, em Porto Alegre (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Paul Singer em 2014, durante participação no Fórum Social Temático, em Porto Alegre (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

“Ele tinha um caráter formidável, um sentido humanitário tão especial”, disse Eduardo Suplicy, durante o velório. “Uma pessoa tão querida tão querida, um exemplo para todos nós brasileiros”, completou o vereador, afirmando também que Singer foi um dos idealizadores do Bolsa Família, um dos principais programas de Lula na Presidência da República.

Para Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, a morte de Singer “é uma perda muito grande para o PT. Eu espero que ele continue inspirando como tem inspirado muitos militantes, muitos simpatizantes pra continuar a batalha que ele traçou durante toda sua vida”.

O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, durante velório de Paul Singer (Foto: Tatiana Santiago/G1)

O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, durante velório de Paul Singer (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Também foram prestar suas últimas homenagens os ex-ministros Guido Mantega e Celso Amorim, o ex-deputado federal Eduardo Jorge e o professor José Arthur Gianotti, professor emérito da USP e co-fundador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), juntamente com Singer.

“Ele foi um grande economista que inspirou várias gerações, inclusive quando eu comecei a fazer mestrado e ele já era uma sumidade do Cebrap, ele me ajudou a fazer os primeiros textos. Era um grande professor de economia”, declarou Mantega. “Pensava muito em como fazia evoluir a economia para que ela pudesse beneficiar os mais pobres, beneficiar a população de baixa renda.”

José Genoíno acompanha velório de Paul Singer em São Paulo (Foto: Tatiana Santiago/G1)

José Genoíno acompanha velório de Paul Singer em São Paulo (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Economista e doutor em sociologia

Paul Singer nasceu na Áustria em 1932 e chegou ao Brasil em 1940. A família dele veio para o país fugindo da perseguição aos judeus na Europa.

Em 1953, foi um dos líderes da greve dos 300 mil, que durou quase um mês e foi um marco do movimento sindical.

Paulo Okamotto, diretor do Instituto Lula, e Rui Falcão, ex-presidente nacional do PT, em velório do economista Paul Singer (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Paulo Okamotto, diretor do Instituto Lula, e Rui Falcão, ex-presidente nacional do PT, em velório do economista Paul Singer (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Singer se formou em economia e fez doutorado em sociologia na Universidade de São Paulo (USP), onde foi livre docente em demografia e professor titular no curso de economia.

Foi aposentado compulsoriamente em 1968, com a decretação do AI-5, e passou a lecionar na PUC-SP, como ocorreu com outros perseguidos pela ditadura militar. Participou da fundação do PT em 1980, junto com outros intelectuais como Perseu Abramo e Plínio de Arruda Sampaio.

Durante a gestão de Luiza Erundina na Prefeitura de São Paulo (1989-1992), Singer foi secretário de Planejamento.

Eduardo Suplicy durante velório do economista Paul Singer, um dos fundadores do PT, em São Paulo (Foto: Tatiana Santiago/G1)
Eduardo Suplicy durante velório do economista Paul Singer, um dos fundadores do PT, em São Paulo (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Ele também foi um dos precursores do conceito de economia solidária no país, baseada na produção com autogestão, sem patrões e empregados. Ocupou o cargo de secretário nacional desta área nos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Roussef (2011-2016).

“Economia solidária é uma organização de produção, de comercialização, das finanças e do consumo que privilegia o trabalho associado, a autogestão, a cooperação e a sustentabilidade considerando o ser humano na sua integridade como sujeito e finalidade econômica”, explicou o próprio Singer em 2013.

O economista também foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que reuniu nomes importantes da academia na resistência à ditadura, e da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares na USP.

‘Exemplo de militância’

Em nota, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), afirma que Singer “deixa o exemplo da coerência política, da militância de esquerda, do caráter reto e do intelectual que nunca mudou de lado”.

“Paul Singer merece nossa gratidão e reconhecimento, e o faremos da forma como ele merece”, declarou Gleisi no texto.

Um filme sobre a trajetória do economista deve ser lançado no final de 2018. Dirigido por Ugo Giorgetti, “Paul Singer, uma história do Brasil” arrecadou mais de R$ 167 mil via financiamento coletivo, em campanha lançada em maio de 2017.

Políticos e personalidades lamentaram, na noite desta segunda-feira (16) e manhã desta terça-feira (17), a morte de Paul Singer, economista e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Veja, abaixo, a repercussão da morte de Paul Singer:

– Gleisi Lula Hoffmann, presidenta nacional do PT

Recebemos a triste notícia da morte do professor Paul Singer. Ele foi um dos fundadores do nosso partido. Deixa o exemplo da coerência política, da militância de esquerda, do caráter reto e do intelectual que nunca mudou de lado. Enviamos nossos sentimentos aos seus filhos André, Helena e Suzana.

Paul Singer merece nossa gratidão e reconhecimento, e o faremos da forma como ele merece.

– Aloizio Mercadante – economista e político

O economista Paul Singer teve uma vida de dedicação e de luta para a construção de um Brasil mais justo, mais solidário e mais generoso para todos e para todas. Esteve presente no processo de redemocratização, ao lado da resistência contra a ditadura militar.

Em sua fase mais recente, nos governos Lula e Dilma, teve contribuição fundamental na organização, no estabelecimento do marco teórico e no fomento da economia solidária, que envolve o fortalecimento das cooperativas e associações, a autogestão empresarial, a distribuição do crédito, entre outros aspectos.

Aos amigos e familiares, deixo meus sentimentos de pesar e de solidariedade, neste momento de tristeza.

– Eduardo Suplicy, verador, em seu perfil no Facebook

Com tristeza, informo a morte do Professor, economista e, acima de tudo, meu amigo Paulo Singer. Juntos, fundamos o PT, e participamos da construção dos programas de governo do presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff. Estive pela última vez com ele em uma visita há um mês em sua residência. Singer foi o maior conhecedor e estimulador das formas cooperativas de produção. Também foi um grande parceiro na defesa da Renda Básica de Cidadania. Era uma pessoa tão especial, com grande caráter, estimado por todos os seus colegas professores e estudantes, que deixa um extraordinário legado por todas as suas obras. O velório acontece nessa terça-feira, a partir das 9h, no Cemitério Israelita do Butantã, e o enterro acontece às 14h30.

– Eduardo Jorge, ex-deputado

Eu comecei a me relacionar com os livros dele, porque ainda muito jovem, ele, na nossa formação de esquerda socialista, era uma figura ímpar, pois não obedecia às ordens do ‘Vaticano vermelho’. Então ele ajudou muito a gente a ter um pensamento mais livre.

Fonte – G1