Mega “esculacho” denuncia torturador da ditadura

O Levante Popular da Juventude e a Articulação Nacional pela Memória, Verdade e Justiça promoveram na manhã de hoje mais um “esculacho”. Cerca de 1.500 pessoas estiveram na Avenida Lauro Müller, 96, no bairro Botafogo, onde no apartamento 1409 mora Dulene Aleixo Garcez dos Reis, tenente acusado de torturar Mário Alves – jornalista e secretário geral do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Mário foi morto dentro do DOI-CODI em 1970 de hemorragia interna, após uma sessão de torturas que terminou com seu empalamento.

Segundo os porteiros do prédio, no momento da manifestação não havia ninguém no apartamento de Dolene, que teria saído pela manhã. Mesmo assim o ato é válido. “A ideia não é o enfrentamento direto, mas sim dialogar com a população”, explica Paulo Henrique Oliveira do Levante Popular da Juventude.

 

Luciane Reis, vizinha, gostou da manifestação. “Não sabia da existência de um torturador ao lado do meu prédio. Se encontrá-lo não sei qual vai ser a minha reação, mas estou disposta a espalhar isso pela vizinhança e redes sociais”.

Por outro lado, muitos outros vizinhos não quiseram dar entrevistas. A moradora que se identifica apenas como Sônia discorda do movimento. “Que é isso? Ridículo. Sou filha de militar e meu pai não foi torturador”, alega exaltada. Segundo ela, é melhor não mexer com esse assunto. Indignada, questiona “Foi a Dilma quem mandou correr atrás dele?”. Após saber que há provas contra o militar esculachado resume: “não torturando nenhuma criancinha aqui do prédio já tá bom”.

A nome de Dulene aparece no levantamento do projeto Brasil: Nunca Mais. Para se escolher um alvo do esculhacho é necessário provas e uma relação clara com o torturado. Esse critério dificulta a realização de escrachos no Paraná, como explica Carola Pachecho, do Levante Popular da Juventude no estado, que estava com uma delegação de 20 pessoas no local. “Lá não houve escrachos diretos. No Paraná há dificuldade de comprovar que a pessoa torturou, porque os arquivos são fechados”.

Ramirez Beltrão do Vale tem seu nome em homenagem a Ramirez do Vale, militante do PCBR desaparecido aos 23 anos. Sua família conseguiu o direcionamento do lugar onde o corpo foi desovado, junto com várias ossadas. Hoje há um memorial no local, porém não se conseguiu a identificação do corpo nem maiores informações sobre o assassinato. “A família vê com bons olhos esse ato. Como não temos oportunidade de fazer justiça, pelo menos que haja a condenação moral”, elogia. Para ele, é esse é um importante passo para que a Comissão da Verdade seja pressionada a apurar, de fato, os crimes da época.

Tortura ainda afeta a juventude e diversos povos

Para Paulo Henrique, a falta de punição no passado incentiva os resquícios da ditadura, ainda hoje, dentro das polícias. “Isso legitima as torturas que acontecem hoje e que afetam, principalmente, jovens de periferia”.

As ações de “esculacho” buscaram inspiração em experiências na Argentina, onde hoje há generais e coronéis presos, no Chile e na África do Sul. A primeira rodada aconteceu no dia 26 de março, em oito estados. A segunda foi no dia 15 de maio, envolvendo 12. Hoje, no Rio de Janeiro, estiveram presentes mais de 20 estados, representados por membros da sociedade civil que vieram à cidade participar da Cúpula dos Povos. “A gente não vai descansar enquanto torturadores não forem presos e punidos”, declara Paulo.

Rosa Brites do Movimento Campesino Paraguaio identificação situação semelhante em seu país. “Na época de Stroessner (ditador paraguaio) também teve muitas torturas e desaparecimentos, mas todos os documentos foram queimados. Tenho parentes que foram mortos mas não sabemos de nada. Queremos conhecer os torturadores que hoje são latinfundários”. Sobre as mortes de sem-terras no último dia 15, próximo à fronteira com o Paraná, afirma: “Estamos de luto. Não acabou a ditadura para o campesinato, só está disfarçado”. Na troca de tiros, morreram dez campesinos e oito policiais.

 

 

Fonte – APP Sindicato

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *