Depoimentos da Comissão da Verdade emocionam em Audiência Pública

Dez pessoas que foram torturadas ou eram familiares de algum preso político foram ouvidos

Tristes momentos, doloridas recordações e inúmeros recomeços. Estes foram os temas principais de algumas das histórias recontadas na noite dessa segunda-feira, no Plenarinho da Câmara Municipal de Criciúma. Na oportunidade, a Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright, junto à seccional catarinense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Assembleia Legislativa realizaram uma Audiência Pública para ouvir alguns depoimentos especiais. A intenção é que eles possam auxiliar na investigação das violações dos Direitos Humanos praticadas por motivações políticas no Estado de Santa Catarina durante o período do Golpe Militar.

Dez pessoas que foram torturadas ou eram familiares de algum preso político foram ouvidos. Conforme o coordenador estadual da Comissão, o advogadoAnselmo da Silva Livramento Machado, somente em Santa Catarina já foram identificados mais de 630 indivíduos que sofreram diretamente com o Golpe Militar. Na Região Carbonífera, foram presos, na época, 91 mineiros. “O período da Ditadura foi praticamente apagado da história do Brasil. Queremos trazer à tona os fatos pertinentes daquele tempo e resgatá-los para que as gerações futuras possam conhecê-los. Essa crueldade não pode se repetir”, coloca Machado.

Depoimentos emocionaram – Entre os depoentes estava José Carlos Mello, filho de João Mello, preso político já falecido. “Eu tinha sete anos quando o Golpe começou, em 1964. Num dos primeiros dias após o início, saí do colégio e cheguei em casa, mas antes de entrar percebi uma movimentação estranha. Vi muitos militares na frente de minha casa, vi fuzis e baionetas, essa cena jamais se apagará da minha memória”, conta. O pai foi levado preso naquele instante. “Levaram um homem que não oferecia mal algum à população. Ele era mineiro, trabalhador, e foi preso só porque fazia parte do sindicato da classe. Não lembro de ter me revelado se foi torturado durante os meses que ficou longe, mas com certeza o foi”, lembra, emocionado.

João foi solto numa madrugada de inverno, chuvosa, adoentado. “Bateram na porta da minha casa, e quando vimos, era o meu pai, com problema no pulmão, todo molhado. Não foram capazes de dar a passagem para ele voltar de ônibus. Não aguentou, morreu pouco tempo depois”, fala. Também presente estava Ada Faraco De Luca, filha de Addo Vanio Faraco, na época deputado. Addo foi preso durante a madrugada. “Ao redor de casa estavam dois jipes e quatro caminhões. Ele virou para mim e para minha mãe e disse: ‘Vou ali prestar depoimento e já volto’. E foi. Ficou oito meses preso, quatro deles sem poder ver a luz do Sol”, conta Ada.

 

Carlos Henrique Mayr também se manifestou durante a noite. Ele era irmão de Frederido Mayr, assassinado em 1972, em São Paulo. Os irmãos faziam parte de movimentos estudantis e acompanharam o desenrolar do Golpe. “Em 1968 fomos para as ruas. Naquele período, começou haver perseguições. Por isso, no ano seguinte, o Frederico fugiu de casa. Só tivemos notícias dele em 1973, por meio de um documento onde foi relatada sua morte. Ele foi ferido, não foi socorrido, sofreu torturas e, dois dias depois, faleceu”, relata.

Fonte – Engeplus/Colaboração: Samira Pereira/Ápice Comunicação

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