‘Sofri tortura psicológica’, recorda capitão sobre ditadura militar no RS

Ex-oficiais participaram de audiência pública da Comissão da Verdade.
Militares relataram ameaças de morte, tortura psicológica e perseguições.

Ex-oficiais prestaram depoimento às Comissões Nacional e Estadual da Verdade no Palácio Piratini (Foto: David Alves/Palácio Piratini)

Em depoimento às Comissões Nacional e Estadual da Verdade, ex-oficiais que integraram as Forças Armadas, Exército, Marinha e Aeronáutica, e policiais da Brigada Militar do Rio Grande do Sul falaram sobre o período em que viveram antes, durante e após o regime militar. A audiência pública ocorreu na segunda-feira (15) no Palácio Piratini, sede do gocverno do estado, em Porto Alegre. Os militares relataram ameaças de morte, tortura psicológica e perseguições.

“Durante minha prisão em Porto Alegre e em Curitiba, fui humilhado e sofri tortura psicológica, sendo tratado como um bandido. Tenho colegas que foram ainda cassados e assassinados”, disse o capitão do Exército José Wilson da Silva. Ele permaneceu em asilo político no Uruguai durante sete anos e respondeu a quatro processos políticos. Preso do Chuí, foi direto para o Dops, em Porto Alegre. A história foi contada em um livro intitulado “O Tenente Vermelho”.

Experiência parecida foi vivida pelo capitão do Exército Constantino José Sommer. “Durante todo o período que exerci minha função fui perseguido e coagido. Sofri repressão também na universidade e nos colégios que lecionei, tachado como comunista. Em Caxias do Sul fui preso e durante 60 dias fiquei sob vigilância extrema. Quando fui solto, não tinha dinheiro para nada, até minha poupança sumiu do banco. Eu, minha esposa e meus três filhos vivemos a base de água e banana durante meses. Para sobreviver, fui plantar”, disse o ex-oficial.

Para ele, os anos de chumbo poderiam ter sido evitados: “Nós tínhamos condições de enfrentar os que queriam aplicar o golpe de Estado, mas faltou força política por parte do presidente João Goulart”, opinou.

Ao longo de quatro horas de depoimentos falaram, também, o ex-piloto e integrante da Força Aérea Brasileira (FAB), Alfredo Daudt Júnior, o capitão do Exército Almoré Zoch Cavalheiro, o coronel da Aeronáutica Avelino Iost e o major da Aeronáutica Melquisedec Abrão Lopes Medeiros. O ex-integrante da Marinha Avelino Capitani entregou um relato por escrito às comissões.

O material colhido durante depoimentos à Comissão da Verdade ficará disponível no Arquivo Nacional de Brasília e, no Rio Grande do Sul, no Arquivo Público do Estado, para que historiadores e pesquisadores possam aprofundar o assunto. O relatório conta com depoimentos de várias categorias que vivenciaram a ditadura militar, como trabalhadores, camponeses, índios, religiosos, civis e militares – com documentos que comprovam as acusações de violações cometidas durante a ditadura.

 

 

Fonte – G1

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