Felipe Santa Cruz: ‘Não há mais como punir os crimes da ditadura’

Presidente da Caixa de Assistência dos Advogados-RJ, Felipe Santa Cruz quer o esclarecimento dos crimes cometidos pela ditadura, mas não defende punição para os torturadores. Seu pai, Fernando Santa Cruz, militante da APML (organização que não aderiu à luta armada), foi preso em 1974 e desapareceu. No livro ‘Memórias de uma guerra suja’, o ex-delegado Cláudio Guerra diz que corpos — de Fernando e de outros nove adversários da ditadura — foram queimados numa usina de Campos.

— Como o sr. recebeu a informação sobre o que ocorreu com seu pai?

— Foi como um raio. É complicado chorar uma morte depois de tanto tempo. Eu, que tinha um ano e meio quando ele foi preso, me vi chorando. O livro só reforça a necessidade do início dos trabalhos da Comissão da Verdade. É preciso checar, por exemplo, se a tal usina recebeu favores do regime militar.

— O sr. quer a punição de quem matou seu pai?

— Minha posição deve ser minoritária entre parentes de vítimas, mas não busco a punição. Esta possibilidade foi extinta pela Anistia, não há punição para crimes cometidos há 40 anos. Punição é fazer com que torturadores admitam a verdade para seus filhos e netos, a memória deles é que ficará comprometida.

— Como o sr. avalia as investigação do Ministério Público?

— A tese do crime continuado (os sequestros que não acabaram) é boa, ajuda a viabilizar as investigações. Mas não há mais como punir os culpados.

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