Ataque à memória de Fernando Santa Cruz

POLÊMICA Cartas supostamente assinadas por professor e por promotor circulam no Estado classificando o desaparecido político de “comunista sem escrúpulos” e “terrorista”

Empossada sexta-feira passada (1º), a Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara – que investigará denúncias e informações sobre pernambucanos mortos e desaparecidos durante o regime de exceção – realizou ontem à tarde, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE), sua primeira sessão de trabalho. No mesmo momento, a duas quadras de distância, no Ministério Público Estadual (MPPE), o advogado e vereador Marcelo Santa Cruz, irmão do estudante Fernando Santa Cruz, desaparecido em 1974, denunciava ao procurador-geral de Justiça Aguinaldo Fenelon o recebimento de uma série de cartas supostamente assinadas por figuras do mundo jurídico e acadêmico com ataques à memória do seu irmão.

Nas cartas, Fernando é classificado de ““comunista sem escrúpulos”” e ““terrorista””, que teria se valido da luta contra a ditadura para se transformar num ““criminoso”” e praticar sequestros e mortes. Os textos ainda cobram indenizações para ““as famílias que ele atingiu, destruiu ou assassinou””. Convencido de que as cartas são falsas, Marcelo Santa Cruz revelou que entre os signatários estão o cientista político Michel Zaidan, da Universidade Federal de Pernambuco, e o promotor de Justiça Paulo Albuquerque. “”São ambos meus amigos e pessoas corretas. Tenho certeza de que não são os autores””, atestou.

Na opinião do advogado, trata-se de uma iniciativa de pessoas incomodadas com o início dos trabalhos da Comissão da Verdade, cientes de que o desaparecimento de Fernando é um dos casos prioritários na lista de investigações. Cartas com o mesmo teor foram recebidas por pelo menos dois integrantes da comissão – o  coordenador Fernando Coelho e o advogado Humberto Vieira de Melo – e pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado Guilherme Uchoa. Por isso, Marcelo solicitou ao Ministério Público que apure a origem dos textos, enviados pelos Correios.

O professor Michel Zaidan, por sua vez, se mostrou indignado com o ocorrido. “”Eu sou amigo de Marcelo e da família e jamais faria algo tão escabroso. É um crime, e tem que ser apurado””, reagiu. Estudioso do período do regime militar, ele vê nas cartas uma tentativa de retaliação. ““Querem desacreditar o trabalho da comissão e tenho certeza de que virão outras investidas. É gente que agiu do lado da repressão e agora quer tentar melar o processo de apuração dos fatos””, acrescentou.

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