Vítimas da ditadura relembram horrores do regime Militar

Homenagem foi realizada em ginásio transformado em prisão pelos militares

Aos 17 anos, Edir Inácio da Silva, hoje, secretário de Trabalho e Renda no Município de Magé-RJ, foi preso a primeira vez, em Magé, na Baixada Fluminense. Filho de comunistas, ele aprendeu cedo a lutar pelos seus ideais. No entanto, foi na quarta vez em que esteve na cadeia que ele conheceu os horrores da tortura. Ainda hoje, aos 75 anos, ele traz no corpo as marcas da crueldade.

—Fui preso quatro vezes. Vi todo tipo de coisa. Mas só na quarta vez que eu fui preso é que eu fui torturado.  As marcas que eu tenho no pulso são resultado dos choques elétricos. Tive a infelicidade de ver uma colega sofrer um aborto por causa de tipo de tortura. Fui muito espancado.

Edir foi um dos 120 ex-presos políticos homenageados durante uma solenidade realizada no Ginásio Caio Martins, em Niterói, na região metropolitana, que durante o regime militar foi usado como centro de detenção. No entanto, nesta segunda-feira (4), o local foi palco da cerimônia de reparação a presos políticos, na qual o Governo do Rio pediu desculpas oficialmente às vítimas do regime.

O ginásio recebeu uma placa, na qual está gravada esta parte da história que muitos não gostam de lembrar. No fim do texto, está  a frase: ‘É preciso lembrar para não repetir’.

Lembrar não é fácil para pessoas como dona Lea Camona Ventura, de 82 anos, mulher o operário naval Álvaro da Costa Ventura Filho. Ele esteve preso no Ginásio e foi lá que ele conheceu o filho. Dona Lea contou que chegou a ficar seis meses sem saber onde o marido estava ou se estava vivo.

— Quando a gente localizava, ele era transferido. Lembro que ele foi muito espancado. Queriam que ele confessasse coisas que ele não tinha feito. Nós levávamos peixe assado para ele, mas entregavam só a espinha. Chegavam a colocar a cabeça dele dentro do vaso sanitário para dar descarga.

Filha de Dona Lea, a psicóloga Maria das Graças Ventura Carvalho, hoje com 59 anos, ainda se recorda das ameaças de sofria. Aos 10 anos, ela ia para a escola escoltada por parentes e amigos, com medo de ser sequestrada. Para ela, ainda é difícil falar desta fase da sua vida.

— Nós sofremos várias ameaças de sequestro. Foi um período muito difícil. Não tínhamos liberdade para nada. Eles invadiam a nossa casa e a dos vizinhos, também, achando que alguém poderia ter se escondido lá.

Enquanto para algumas pessoas é difícil recordar, outras transformam a dor em motivação. Maria de Lourdes Duque Estrada é filha de Denegildo da Silva Pinto, preso quatro vezes e torturado. Ela escreveu o livro Tributo a um Revolucionário, em homenagem ao pai.

— Meu pai era o meu herói. Por isso eu escrevi esse livro para ele. Uma das coisas que eu ouvi dele e que eu coloquei no livro é a frase ‘podem matar uma ou duas rosas, mas nunca vão impedir a chegada da primavera.’

 

 

Fonte – R7/ Magé Online.com

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