Especial Cronologia do Golpe – EBC

Em um intervalo de três anos, ocorreram diversos fatos que resultaram na intervenção das Forças Armadas no governo brasileiro, em 31 de março de 1964. Saiba quais foram os principais momentos que culminaram em 21 anos de Ditadura Militar.


 

1961

25 DE AGOSTO

RENÚNCIA DE JÂNIO QUADROS

 

Após oito meses de governo, Jânio Quadros envia mensagem ao Congresso Nacional renunciando ao cargo.

Vídeo sobre a Rede da Legalidade feito pelo Governo do Rio Grande do Sul por ocasião dos 50 anos do movimento que garantiu a posse de João Goulart em 1961

Affonso foi ministro do Trabalho no governo João Goulart em um dos períodos de maior atividade sindical no país. Teve o mandato de deputado federal cassado em 1964, ficando exilado por 12 anos. Entrevista concedida ao programa Caminhos da Reportagem da TV Brasil.

 

7 DE SETEMBRO

POSSE DE JOÃO GOULART

 

Em agosto de 1961, com a renúncia do então presidente Jânio Quadros, o vice João Belchior Marques Goulart – chamado desde criança de Jango – enfrenta forte oposição a seu nome, só conseguindo assumir a Presidência da República depois da aprovação de emenda constitucional que institui o parlamentarismo, restringindo os poderes do presidente.

 

Saulo Gomes, presidente da ABAP, repórter na época da renúncia de Jânio Quadros fala sobre a cobertura daquele período por meio da Rede da Legalidade, grupo de emissoras comandado pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, que defendeu a posse de João Goulart em 1961. Entrevista realizada para o programa Caminhos da Reportagem da TV Brasil.

 

O GOVERNADOR BRIZOLA INSPECIONA AS FORTIFICAÇÕES DO PALÁCIO

Governo Leonel de Moura Brizola, Porto Alegre

MUSEU DA COMUNICAÇÃO HIPÓLITO JOSÉ DA COSTA

 

O GOVERNADOR FALANDO NA RÁDIO DA LEGALIDADE

Porto Alegre

MUSEU DA COMUNICAÇÃO HIPÓLITO JOSÉ DA COSTA

 

O GOVERNADOR BRIZOLA FALANDO NA RÁDIO DA LEGALIDADE

Porto Alegre

MUSEU DA COMUNICAÇÃO HIPÓLITO JOSÉ DA COSTA

 

CHEGADA DE JOÃO GOULART EM MONTEVIDÉU

Museu da Comunicação Hipólito José da Costa

 

CHEGADA DE JOÃO GOULART EM MONTEVIDÉU

Museu da Comunicação Hipólito José da Costa

 

ABRAÇO DE JOÃO GOULART E BRIZOLA NA RÁDIO LEGALIDADE

Porto Alegre

Museu da Comunicação Hipólito José da Costa

 

1962

31 DE DEZEMBRO

JANGO APRESENTA UM PLANO ECONÔMICO DE GOVERNO

 

O Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social foi elaborado em 1962 por um grupo comandado pelo economista Celso Furtado, ministro extraordinário do Planejamento. Entre os objetivos estava o combate à inflação e o controle do déficit público.

 

O Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social foi elaborado em 1962 por um grupo comandado pelo economista Celso Furtado, ministro extraordinário do Planejamento, Entre os objetivos estava o combate à inflação e o controle do déficit público.

 

1963

12 DE SETEMBRO

REVOLTA DOS SARGENTOS

 

Na madrugada do dia 12 de setembro de 1963, 600 suboficiais da Marinha e da Aeronáutica tomaram prédios em Brasília: o Departamento Federal de Segurança Pública; o Ministério da Marinha; a Rádio Nacional e o Departamento de Telefones Urbanos e Interurbanos.
O motivo foi a decisão do STF que confirmou que cabos, sargentos e suboficiais não poderiam ser eleitos. E que os que já haviam sido eleitos não poderiam assumir seus cargos.

Assista ao vídeo que explica o movimento:

 

A Revolta dos Sargentos foi um dos graves episódios de quebra de hierarquia que alimentaram a conspiração que levou ao golpe militar de 1964. Na madrugada do dia 12 de setembro de 1963, 600 suboficiais da Marinha e da Aeronáutica tomaram prédios em Brasília: o Departamento Federal de Segurança Pública; o Ministério da Marinha; a Rádio Nacional e o Departamento de Telefones Urbanos e Interurbanos.

O motivo foi a decisão do STF que confirmou que cabos, sargentos e suboficiais não poderiam ser eleitos. E que os que já haviam sido eleitos não poderiam assumir seus cargos.

A capital do país ficou incomunicável. O ministro do STF, Vitor Nunes Leal, e vários oficiais foram presos na base aérea de Brasília. O presidente em exercício da Câmara dos Deputados, deputado Clóvis Mota, ficou detido no Departamento Federal de Segurança Pública . Os rebeldes receberam o apoio de deputados da Frente Parlamentar Nacionalista na Base Aérea. Um tiroteio em plena esplanada dos ministérios houve feridos e um militar morreu. Um civil também morreu metralhado numa barreira instalada num dos acessos a Brasília.

Mas a revolta não durou muito. Perto de 12 horas depois, tropas do Exército sufocaram o movimento. O líder da rebelião, o sargento da aeronáutica Antonio Prestes de Paula foi preso e mandado para o Rio de Janeiro junto com outros 536 militares. Ficaram num barco-presídio ancorado na baía de Guanabara. Outros líderes do movimento foram detidos no Rio, em São Paulo e no Rio Grande do Sul. 19 sargentos foram indiciados num inquérito policial militar e condenados a quatro anos de prisão.

 

1964

13 DE MARÇO

COMÍCIO DA CENTRAL DO BRASIL

Comício popular realizado no Rio de Janeiro para pressionar o Congresso para a aprovação do projeto de reformas de base, propostas pelo governo de João Goulart.
Organizado pelo Comando Geral dos Trabalhadores, o evento contou com a participação de cerca de 150 mil pessoas e foi considerado um dos principais estopins para o golpe que estava por vir.

Durante o evento Jango assina dois decretos: um desapropriava as terras ociosas das margens das rodovias e açudes federais e o outro encampava as refinarias particulares de petróleos.

 

Em um discurso num palanque montado na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, João Goulart reuniu mais de 150 mil pessoas para o Comício das Reformas. O Deputado Federal pelo PTB Leonel Brizola criticou a direita e provocou o governador da Guanabara Carlos Lacerda, além de atacar o Congresso Nacional, que insistia em não aceitar as reformas de base. O presidente João Goulart também defendeu as reformas de base e pediu uma conciliação nacional para que os parlamentares auxiliassem na mudança da Constituição.

Além da assinatura do decreto da Superintendência de Política Agrária, a SUPRA, o presidente acreditava que deveriam ser desapropriadas as terras em torno de rodovias e ferrovias-açudes, bem como terras beneficiadas por obras de saneamento da União. Este seria o primeiro passo para a consolidação da reforma agrária.

 

JANGO E MARIA THEREZA
DURANTE O COMÍCIO

Arquivo Nacional / Agência Nacional

 

FAIXAS NA CONCENTRAÇÃO DO COMÍCIO

Arquivo Nacional / Correio da Manhã

 

FAIXA EM DEFESA DA PETROBRÁS

Arquivo Nacional / Agência Nacional

 

15 DE MARÇO

MENSAGEM AO CONGRESSO

 

Jango envia uma Mensagem ao Congresso. Redigida por Darcy Ribeiro, o texto tinha o objetivo de implementar as reformas com propostas de plebiscito, delegação de poderes e revisão no capítulo das elegibilidades.

Leia a mensagem de João Goulart (em PDF).

Abaixo, foto da entrega da mensagem.

 

19 DE MARÇO

MARCHA DA FAMÍLIA COM DEUS PELA LIBERDADE

 

Em São Paulo, como resposta ao Comício da Central do Brasil, uma manifestação organizada por uma freira anônima teve a participação de mais de 500 mil pessoas. Os discursos contra Goulart foram a tônica do comício que seguiu o ato, com fala do presidente do Senado, Auro Moura Andrade e de alguns deputados como Plínio Salgado.

 

Marcha da Família com Deus pela Liberdade em São Paulo no dia 19 de março de 1964. Trecho do filme “Jango” de Sílvio Tendler cedido pela editora Intrínseca por meio do acervo de Élio Gaspari.

 

20 DE MARÇO

CASTELLO BRANCO DISTRIBUI CIRCULAR AOS OFICIAIS

O general Castello Branco, chefe do Estado-Maior do Exército, expediu circular reservada aos oficiais de Estado-maior alertando para “as ameaças contidas” nas medidas anunciadas no comício do dia 13.

“Os meios militares nacionais e permanentes não são propriamente para defender os programas de governo, muito menos a sua propaganda, mas para garantir os programas constitucionais, seu funcionamento e a aplicação da lei”.

Nos EUA, o presidente Lyndon Johnson autoriza a formação de uma força naval para intervir na crise brasileira, caso necessário.

 

24 DE MARÇO

PRISÃO DE DIRIGENTES QUE PROMOVERAM O ANIVERSÁRIO
DA ASSOCIAÇÃO DOS MARINHEIROS E FUZILEIROS
NAVAIS DO BRASIL

 

O ministro da Marinha, Sílvio Mota, ordenou neste dia a prisão de 12 dirigentes da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil, por terem participado de reuniões no Sindicato dos Bancários para organizar o segundo aniversário de fundação da Associação, considerada ilegal.

 

25 DE MARÇO

REVOLTA DOS MARINHEIROS

 

Cerca de 2 mil marinheiros e fuzileiros navais compareceram à sede do sindicato e exigiram o reconhecimento oficial da entidade, a melhoria das condições de vida e alimentação digna nos navios.

O ministro da Marinha enviou uma tropa de fuzileiros navais apoiados por tanques para invadir o prédio e retirar os marinheiros.

O contra-almirante Cândido Aragão renunciou ao comando e parte da tropa negou-se a atacar os colegas, aderindo à revolta.

A ordem de João Goulart para que o sindicato não fosse invadido ocasionou a renúncia do ministro Sílvio Mota. Em seu lugar Jango nomeou Paulo Mário da Cunha Rodrigues, ligado ao PCB, o que irritou os militares.

 

Saulo Gomes, presidente da ABAP, repórter e diretor de jornalismo da rádio Mayrink Veiga que cobriu a revolta dos Marinheiros que antecedeu o Golpe Militar de 1964 lembra como foram aqueles dias. A entrevista foi concedida ao programa Caminhos da Reportagem da TV Brasil

 

28 DE MARÇO

SAÍDA DOS MARINHEIROS DO PRÉDIO DO SINDICATO

 

Oficiais do gabinete militar da presidência conseguiram um acordo com os marinheiros, que abandonaram o prédio e foram presos no quartel do Exército em São Critóvão.

João Goulart concedeu anistia aos revoltosos que saíram em passeata pelas ruas do Rio de Janeiro. Exército, Marinha e Aeronáutica se sentiram injuriados pelo presidente da República.

 

30 DE MARÇO

JANGO DISCURSA NA FESTA DA POSSE DA NOVA DIRETORIA DA ASSOCIAÇÃO DOS SARGENTOS, NO AUTOMÓVEL CLUBE

O deputado Tancredo Neves, líder do governo na Câmara e o ministro da Justiça, Abelardo Jurema, tentavam convencer Jango a não ir à reunião na sede do Automóvel Clube.

Tancredo diz:

“Deus faça que eu esteja enganado mas creio ser esse o passo do presidente que irá provocar o inevitável, a motivação final para a luta armada”.

Pouco depois das 22h Jango chega ao Automóvel Clube.

“O meu apelo é para que os sargentos brasileiros continuem cada vez mais disciplinados, naquela disciplina consciente, fundada no respeito recíproco entre comandantes e comandados. Que respeitem a hierarquia legal, que se mantenham cada vez mais coesos dentro de suas unidades e fiéis aos princípios básicos da disciplina”.

 

Arquivo Nacional/Correio da Manhã

 

30 DE MARÇO

22H58

Um telegrama enviado do consulado americano aos EUA informava:

“Duas fontes ativas do movimento contra Goulart dizem que o golpe contra o governo do Brasil deverá vir nas próximas 48 horas”.

O Departamento de Estado norte-americano determinara a todos os consulados do Brasil que informassem diretamente a Washington “qualquer desenvolvimento significativo envolvendo resistência militar ou política a Goulart”.

 

30 DE MARÇO

23H35

Jango já retornara aos palácio das Laranjeiras. O presidente dos EUA Lyndon Johnson recebe em seu rancho, no Texas, um telefonema de Dean Rusk:

“A coisa pode estourar a qualquer momento (…) Pedi ao Bob McNamara (Robert McNamara, secretário de Defesa dos EUA) que apronte alguns navios-tanques para suprimentos (…) Esta é uma oportunidade que pode não vir a se repetir. Acho que é possível que esse assunto brasileiro exploda de hoje para amanhã e vou estar em contato com o senhor sobre isso, para que o senhor possa se planejar”.

Lyndon Johnson. Crédito LBJ

 

30 DE MARÇO

 

Jango já retornara ao palácio das Laranjeiras. O general Carlos Luís Guedes escolheu iniciar o levante no dia 30, porque era noite de lua cheia e ele não queria desencadear a revolta num quarto minguante.

“Porque dia 30 é o último dia de lua cheia, e eu não tomo nenhuma iniciativa na lua minguante; se não sairmos sob a lua cheia, irei esperar a lua nova e então será muito tarde”.

No período da tarde determinou que soldados fechassem o trânsito perto de seu quartel-general, prendeu adversários políticos e organizou uma tropa chamada Força Revolucionária.

General Carlos Luís Guedes. Revista O Cruzeiro

 

“QUANDO JOÃO GOULART E SEUS MINISTROS SAÍRAM DA SEDE DO AUTOMÓVEL CLUBE NAQUELA SEGUNDA-FEIRA, 30 DE MARÇO,
A CRISE TINHA CHEGADO EM SEU AUGE”

 

Jorge Ferreira

 

 

31 DE MARÇO

02H30 – TROPAS DO IV EXÉRCITO PARTEM DE JUIZ DE FORA (MG)

Superior hierárquico de Guedes, o general Mourão decide entrar em ação e escreve em seu diário:

“Acendi o cachimbo e pensei: não estou sentindo nada e, no entanto, dentro de poucas horas deflagrarei um movimento que poderá ser vencido, porque sai de madrugada e terá que parar no meio do caminho”

 

General Mourão/ Revista O Cruzeiro

 

 

ENTRE 3H E 4H, O MOVIMENTO MILITAR COMEÇA EM MG

 

31 DE MARÇO

05H

 

Mourão em seu diário: “Eu estava de pijama e roupão de seda vermelho. Posso dizer com orgulho de originalidade: creio ter sido o único homem no mundo (pelo menos no Brasil) que desencadeou uma revolução de pijama”.

Mourão e Armando Falcão/Agência Nacional

 

Mourão telefonou para o deputado Armando Falcão para informar sobre o movimento das tropas, que por sua vez telefona para Castello Branco e avisa que as tropas já estavam na estrada União-Indústria, ligação entre Juiz de Fora e Petrópolis.

Castello ligou para o irmão do comandante do II Exército e pediu para avisar o general Amaury Kruel, sem ele a movimentação “não passaria de uma aventura”. O recado chegou ao quartel-general do II Exército em São Paulo, mas Kruel se mantinha fiel a Goulart.

 

31 DE MARÇO

07H

No Rio de Janeiro, o general Antonio Carlos Muricy recebe a senha de Mourão para se dirigir a Juiz de Fora “começou a brincadeira”.

Avisado sobre a situação, Castello Branco determinou que o general Antônio Carlos Muricy, em seu próprio automóvel, fosse ao encontro de Mourão e assumisse o comando das tropas.
Muricy rumou para Minas no seu Rural Willys, enquanto Castello Branco ao telefone tentava conter a marcha dos mineiros.
Castello liga para o general Guedes:

O que está havendo por aí em Minas? O Muricy me comunicou que foi chamado pelo Mourão, e eu lhe disse que fosse para prevenir qualquer bobagem que aquele pretendesse fazer.

Não vai haver. Houve. Desde as seis horas da manhã as nossas tropas se deslocam em várias direções. Deflagramos a revolução.

Castello Branco foi para o Ministério da Guerra e comunicou-se com o general Guedes, alegando que “não foi possível fazer nenhuma articulação” no Rio de Janeiro.

“A solução é vocês voltarem porque senão vão ser massacrados”.

Depois, conversou com Magalhães Pinto:

“Se não voltarem agora, voltarão derrotados”

Castello Branco/Agência Nacional

 

31 DE MARÇO

 

Em iniciativa individual, o comandante da Base Aérea de Santa Cruz coronel-aviador Rui Moreira Lima, por conta própria, decolou em um jato de caça.
Os vôos rasantes assustaram a tropa de Mourão. Sem ordens para atirar, retornou para a Base Aérea.

 

No dia 31 de abril de 1964, em iniciativa individual, o comandante da Base Aérea de Santa Cruz e herói do Grupo de Caças que lutou na Itália, coronel-aviador Rui Moreira Lima, por conta própria, decolou em um jato de caça e sobrevôou as tropas golpistas do general Mourão que partiam de Minas Gerais. Sem permissão para atirar ele voltou para a base. Confira o depoimento concedido à Comissão Nacional da Verdade antes de sua morte.

 

31 DE MARÇO

13H

 

O contra-almirante John Chew, vice-diretor de operações navais dos EUA, ordenava ao comandante em chefe da Esquadra do Atlântico o deslocamento de um porta-aviões à frente de uma força-tarefa para a “área oceânica na vizinhanças de Santos, Brasil”

Divulgação: O Dia Que Durou 21 Anos/Pequi Filmes

 

31 DE MARÇO

16H

 

Jango convocou o chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, o general Peri Bevilacqua ao Palácio.

Bevilacqua apresentou a Jango um documento que expressava a opinião dos chefes dos Estados-Maiores do Exército e da Aeronáutica.

O general garantiu que ainda era possível reestabelecer a confiança entre o Presidente da República e as Forças Armadas: uma declaração formal de se opor à deflagração de greves políticas, anunciadas pelo CGT

Agência Nacional

 

31 DE MARÇO

 

No final da tarde, Juscelino Kubitschek divulgou uma nota afirmando que “a legalidade está onde estão a disciplina e a hierarquia”. Depois, foi conversar com o presidente no Palácio das Laranjeiras. Para evitar o golpe propôs a Jango uma solução política: nomear um novo ministério, de caráter conservador, punir os marinheiros e lançar um manifesto de repúdio ao comunismo.

Jango:

Esse movimento que explodiu em Minas será debelado prontamente, esse manifesto do Mourão, será destruído pelas tropas fiéis ao governo. Amanhã tudo isso estará terminado.

JK:

“Você me chamou e eu não sei para quê. Mas eu sei o que eu faria na sua situação. Você tem que fazer dois manifestos. Um tranquilizando a nação em relação ao problema do comunismo. O outro, às Forças Armadas em que você avoca para si o problema da Marinha e resolve tudo no respeito aos regulamentos e à hierarquia”.

Jango:

“Eu não posso fazer isso. Se fizer isso dou uma demonstração de medo e um homem que tem medo não pode governar o país”.

 

31 DE MARÇO

 

Goulart telefona para o presidente do CGT Clodsmidt Riani e pede aos sindicalistas que evitem a decretação de greves.

“Presidente, o senhor vai me desculpar, mas o que pode manter um governo agora é só o povo na rua. Nós vamos decretar a greve e está decidido”.

Crédito: Erbes Soares Ferreira/Acervo Maria do Resguardo

 

31 DE MARÇO

 

Jango distribui aos repórteres um texto intitulado “Comunicado do Presidente da República”.

A nota informava que o ministério da Guerra já havia enviado tropas do I Exército para acabar com a rebelião.

O general Jair Dantas Ribeiro, que estava no Hospital se recuperando de uma cirurgia, reassume o ministério da Guerra.

Faz contatos com o comandante do I Exército, general Armando de Moraes Âncora. A seguir, distribuiu uma nota aos comendantes dos quatro Exércitos declarando que a ordem seria reestabelecida a qualquer preço.

Um avião T6 da FAB jogou dois tipos de panfletos sobre Juiz de Fora

 

 

23H KRUEL DIVULGA MANIFESTO EM QUE DIZ SER
NECESSÁRIO “SALVAR A PÁTRIA EM PERIGO”.

 

31 DE MARÇO

22H

 

Kruel pediu ao presidente que rompesse com a esquerda. Queria a demissão de Abelardo Jurema do ministério da Justiça e de Darcy Ribeiro da chefia do gabinete Civil e colocasse o CGT na ilegalidade.

Jango:

“General, eu não abandono os meus amigos. Se essas são as suas condições, eu não as examino. Prefiro ficar com as minhas origens. O senhor que fique com as suas convicções. Ponha as tropas na rua e traia abertamente”.

 

31 DE MARÇO

22H

 

1º Regimento de Infantaria, o Regimento Sampaio, comandado pelo coronel Raymundo Ferreira de Souza.

A tropa aproximava-se do que poderiam ser as linhas de combate. Ao chegar em Três Rios, seu comandante, coronel Raymundo Ferreira de Souza, recebeu um telefonema do marechal Odílio Denys, de quem fora assistente, e mudou de lado:

“Eu e toda minha tropa nos solidarizamos com o movimento revolucionário”

Mourão estava em Três Rios. Denys deslocou-se para o Vale do Paraíba onde manteve contatos para obter a adesão das tropas legalistas

 

31 DE MARÇO

 

O governador Ildo Meneghetti, refugiado em uma cidade do interior, ordenou, com sucesso, que a Brigada Militar apoiasse a revolta.

No comando do IV Exército, o general Justino Alves Bastos, tomou posição ao lado dos golpistas e ordenou a prisão do governador de Pernambuco Miguel Arraes.

No Porto de Recife, o início de uma greve foi reprimida pela Marinha. Gregório Bezerra incentivou uma revolta camponesa no sul do Estado. Preso, foi arrastado pelas ruas de Recife em um carro do exército.

Prisão de Miguel Arraes/Revista O Cruzeiro

 

Entrevista gravada com Gregório Bezerra no exílio. Créditos: Luiz Alberto Sanz, Lars Safstrom, Leonardo Cespedes e Staffan Lindqvist. Registro recuperado e digitalizado pelo Armazém Memória.

 

31 DE MARÇO

 

Novo contato telefônico entre Goulart e Kruel. O Comandante do II Exército fez um novo apelo para que Jango se afastasse dos comunistas

Presidente, o senhor é capaz de comprometer-se de que vai se desligar dos comunistas e decretar medidas concretas a esse respeito?

General, sou um homem político. Tenho compromissos com os partidos e não posso abandoná-los ante a pressão dos militares. Não posso deixar de lado as forças militares que me apoiam

Então, presidente, nada podemos fazer. E isto é a opinião dos generais aqui presentes

Porque o general não vem ao Rio, conferenciar comigo e com os demais comandantes do Exército? Creio que arranjaremos as coisas

Não posso atender, presidente. Tenho compromissos com a linha de conduta que tracei pra mim desde quando ministro da Guerra, contra o comunismo e em defesa do Exército e não posso traí-la

 

Kruel ordena o deslocamento das tropas do II Exército e da Força Pública do Estado de S. Paulo para o Vale do Paraíba no caminho para a Guanabara/Revista O Cruzeiro

 

O coronel reformado Erimá Pinheiro afirmou em depoimento à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo que o general Amaury Kruel, comandante do II Exército em 1964 teria recebido dinheiro dos Estados Unidos para trair João Goulart no dia 1º de abril.

 

 

KRUEL ORDENA O DESLOCAMENTO DAS TROPAS DO II EXÉRCITO E DA FORÇA PÚBLICA DO ESTADO DE SP PARA O VALE DO PARAÍBA NO CAMINHO PARA A GUANABARA

 

1º DE ABRIL

 

O Forte de Copacabana foi invadido por uma tropa do exército sem qualquer cerimônia.
Em apoio ao governo de Jango atuava uma cadeia de rádios na madrugada do dia 31 para o dia 1º formada pela Nacional, Mayrink Veiga, Continental e MEC.

Estudantes ouvem notícia do Golpe/Jorge Bodanzky

 

1º DE ABRIL

 

Presidente da UNE, José Serra defendeu o governo Jango na Rádio Nacional.

José Serra durante o congresso da UNE/Arquivo Pessoal

 

 

“ESTÁ LANÇADO PARA TODO O PAÍS O DESAFIO: DE UM LADO, A MAIORIA DO POVO BRASILEIRO DESEJANDO AS REFORMAS E QUE A RIQUEZA SE DISTRIBUA, OS OUTROS SÃO OS GOLPISTAS QUE DEVEM SER REPELIDOS”
Rubens Paiva na Rádio Nacional

 

1º DE ABRIL

 

Dirigindo-se para o general Moraes Âncora, Jango perguntou se podia contar com ele:

“Eu fico com o senhor, presidente, mas para cair sozinho ao teu lado”

Goulart então o nomeou ministro da Guerra e o incumbiu de ir ao encontro do general Kruel para demovê-lo de continuar ao lado das tropas insurgentes.

Ainda na manhã do dia 1º, Moraes Âncora e outros generais que foram ao Palácio das Laranjeiras expor o quadro político ao presidente e sugerir que deixasse a Guanabara.

As tropas do general Mourão Filho já tomavam as ruas da Guanabara.

Aconselhado pelo general Morais Âncora, Jango deixa o Palácio das Laranjeiras

“Isso aqui está se transformando numa armadilha”

 

1º DE ABRIL

 

O Ministro da Guerra, Jair Dantas, telefona para Jango.

Presidente, eu ainda me disponho a garantí-lo na presidência da República se houver da sua parte uma declaração rompendo com o Comando Geral dos Trabalhadores

Não posso abrir mão de nenhuma força que esteja me apoiando, general

Pois então, a partir de agora não sou mais o seu ministro da Guerra

O senhor está me abandonando, general?

 

Não presidente, o senhor é que está fazendo uma opção.

Jango e o Ministro da Guerra Jair Dantas/Agência Nacional

 

1º DE ABRIL

14H

 

O almirante Aragão esperava ordens de Goulart para invadir o Palácio Guanabara e prender Lacerda.
Aragão foi convocado pelo general Moraes Âncora e recebeu a ordem de não prender Lacerda.
Lacerda, em seu bunker no Palácio da Guanabara, desafiava abertamente o governo.

“Aragão, covarde, incestuoso, deixe os seus soldados e venha decidir comigo essa parada. Quero matá-lo com o meu revólver”.

 

Novamente o comandante Aragão, junto a majores e capitães, procurou o presidente e pediu autorização para prender Lacerda e tomar o Palácio da Guanabara. A resposta foi outra recusa.

Carlos Lacerda/Acervo Élio Gaspari

 

1º DE ABRIL

14H

Dezenas de Lacerdistas saíram de alguns carros, espancaram os jovens e incendiaram o prédio da UNE.

A Federação Nacional dos Estivadores, dos Marítimos e outras organizações sindicais foram tomadas pelas forças golpistas. O ministério do Trabalho, com sede na Guanabara foi cercado pelos bandos lacerdistas.

A Rádio Nacional, que defendia o governo Goulart, sai do ar.

Sede da UNE/Acervo UNE

 

Saulo Gomes, presidente da ABAP, diretor de jornalismo da rádio Mayrink Veiga relata que a rádio permaneceu no ar em apoio ao governo João Goulart até as 18h do dia 1º de abril de 1964, quando foi tirada do ar por milícias armadas de Carlos Lacerda, governador da Guanabara e um dos principais apoiadores do Golpe. E entrevista foi concedida ao programa Caminhos da Reportagem da TV Brasil.

 

1º DE ABRIL

17H

 

O general Artur da Costa e Silva sai do seu gabinete no Departamento de Produção e Obras e , antecipando-se a Castello Branco, entra nas dependências do Ministério da Guerra, enquanto Moraes Âncora estava em Resende. Alegando ser o general mais antigo naquele momento, nomeou-se ministro e institutiu o “Comando Supremo da Revolução”, do qual era o chefe.

 

1º DE ABRIL

17H45

 

Castello Branco sai da clandestinidade e vai para o Forte de Copacabana com todo seu estado-maior.

Agência Nacional

 

1º DE ABRIL

 

Âncora e Kruel lanchavam quando chegou a informação de que o presidente estava em Brasília para organizar a resistência. Naquele momento, o general Médici já conseguira convencer Kruel e Âncora de que o melhor a ser feito era unir forças a favor da intervenção militar.
Os dois chegam a um acordo: O I Exército se renderia e o general Costa e Silva assumiria o ministério da Guerra.

Costa e Silva/Agência Nacional

 

1º DE ABRIL

 

Uma tropa legalista resistia à chamada “guerra de saliva” que se desenvolvia no Estado do Rio: o contingente de 4 batalhões, comandado pelo general Luís Tavares Cunha Mello, que estacionara em Areal.

Em Areal, sem a tropa do 1º RI, Cunha Mello percebeu que defendia uma legalidade sem retaguarda. Muricy mandara-lhe um recado informando que “como cavalheiro” não daria o primeiro passo sem antes avisá-lo. Antes do pôr do sol o general enviou um emissário ao combatente rebelde. Queria retrair sua tropa, mas pedia aos revoltosos que só avançassem duas horas depois. Muricy deu uma hora de vantagem e começou a descer a serra.

Convencido por Odílio Denys, o general Cunha Mello, que comandava as tropas do I Exército, que incluíam o Regimento Sampaio, mudou de lado e deixou à vontade seus oficiais para fazerem o mesmo.

“Aqueles que querem aderir à revolução, tem que fazê-lo agora, porque vamos combater brigando”

 

Em Três Rios, já no Estado do Rio, as tropas se confraternizavam.

Tropas nas proximidades do RJ/O Cruzeiro

 

 

TROPAS CONFRATERNIZAM EM TRÊS RIOS E SEGUEM
PARA O RIO DE JANEIRO

 

1º DE ABRIL

 

Ao chegar ao Palácio do Planalto, Goulart foi recebido por um grupo de militares do Exército e o ministro da Casa Civil, Darcy Ribeiro.
Reunido na Granja do Torto com Darcy Ribeiro, Waldir Pires, Almino Afonso, Tancredo Neves e Doutel de Andrade, o presidente pediu que fosse redigida uma declaração à população, onde afimava que lutaria “sem tréguas para defender o povo contra as arremetidas da prepotência do poder econômico” e denunciava “as forças reacionárias que atacavam as instituições democráticas e a libertação econômica da pátria”.

 

1º DE ABRIL

22H30

 

Jango abandona a Granja do Torto e voa para Porto Alegre.
No aeroporto de Brasília, Jango embarcaria num avião comercial da Varig, mas o avião estava com defeito e não pode decolar. O avião foi cedido pelo brigadeiro Francisco Teixeira, comandante da III Zona Aérea do Rio de Janeiro.
O avião seguiu para a capital gaúcha em baixa altitude e por uma rota alternativa: Mato Grosso, passando pelo Paraguai e entrando no Rio Grande do Sul pela fronteira oeste.

 

2 DE ABRIL

 

É lida no Congresso a carta redigida por Darcy Ribeiro informando que Goulart e seu ministério estavam em Porto Alegre.

Darcy Ribeiro/Fundação Darcy Ribeiro

 

2 DE ABRIL

 

Nas primeiras horas da madrugada do dia 2, 6 mil soldados, liderados pelos generais Mourão e Muricy entraram na Avenida Brasil. Durante o dia, marchando pelas ruas, a tropa era aplaudida com entusiasmo.

Tropas chegam ao RJ/Correio da Manhã

 

2 DE ABRIL

 

Logo após a abertura dos trabalhos no Congresso Nacional, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vago o cargo de Presidente da República e convocou o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli a assumir o governo.

Auro de Moura Andrade/Agência Nacional

 

2 DE ABRIL

4H

 

Jango leva cinco horas para chegar à Porto Alegre, pousando no aeroporto minutos antes das 4h.
Chegando a Porto Alegre, já de madrugada, Jango reuniu-se com Brizola, os ministros que o acompanhavam desde São Paulo e o general Ladário, que passara a comandar o III Exército.

 

2 DE ABRIL

8H

 

Jango convoca o comandante do III Exército, Ladário Telles para uma reunião que também teve a presença de quatro generais, Leonel Brizola e os ministros Wilson Fadul, Osvaldo Lima Filho e Amaury Silva.
Ladário relatou ao presidente que não tinha o controle completo das tropas e que havia muitos regimentos sublevados.
Goulart:

“Eu verifico o seguinte: que a minha permanência no governo terá que ser à custa de derramamento de sangue e eu não quero que o povo brasileiro pague esse tributo. Então eu me retiro, peço a vocês que desmobilizem que eu vou me retirar”.

 

2 DE ABRIL

11H45

 

General Floriano Machado:

 

“Tropas de Curitiba estão marchando sobre Porto Alegre. O senhor tem 2 horas para deixar o país se não quiser ser preso”.

 

Jango a bordo de um avião da Varig pertencente à Força Aérea Brasileira, voou para a Fazenda Rancho Grande, uma das suas estâncias em São Borja, onde já estavam Maria Thereza e seus filhos.
Brizola, enquanto Jango sobe no avião:

 

“Tu nunca mais vai voltar ao Brasil deste jeito”

 

2 DE ABRIL

 

O presidente dos EUA, Lyndon Johnson telegrafa para Mazilli e apresenta “calorosos votos de felicidade” e proclama que “as relações de amizade e cooperação entre nossos dois governos e povos representam um grande legado histórico e arma preciosa para os interesses da paz, da prosperidade e da liberdade neste hemisfério e no mundo”.
A Operação Brother Sam é desativada e o comandante da frota é instruído a camuflar a movimentação por meio de uma simulação de manobras de combate.

 

2 DE ABRIL

POR VOLTA DE 23H

 

Mensagem do subsecretário George Ball para Lincoln Gordon:

“Felicitações a você e à sua equipe pelos nervos firmes e bons conselhos durante o período crítico, e pelos excelentes relatórios sob condições de grande confusão. Boa noite e parabéns”.

 

3 DE ABRIL

 

Numa folha de caderno escolar, o presidente escreveu uma nota ao governo uruguaio pedindo asilo. O destinatário da carta era seu amigo João Mintegui, adido comercial da embaixada do Brasil em Montevidéu. O texto foi entregue ao piloto que levaria a família de Jango ao Uruguai.
Jango datou a carta de 4 de abril, mas segundo o filho de Mintegui ela foi escrita no dia 03.

“Desejo saber, embora tenha absoluta convicção de que jamais o bravo povo uruguaio e o digno Governo de um país irmão faltariam aos sentimentos e aos ideias do povo uruguaio e brasileito, se o Presidente e o digno Colegiado da república estão em condições de assegurar-me o asilo que talvez venha a solicitar ao Uruguai pela grande confiança que sempre depositei na República Oriental do Uruguai e seu povo.”

Assinado João Goulart.

 

No dia 02 de abril de 1964, a esposa de João Goulart, Maria Thereza deixou o país junto de seus dois filhos. João Vicente Goulart, então com 7 anos, conta como foi o momento do exílio

 

4 DE ABRIL

 

Jango chega ao Uruguai.

Crédito: Aurélio González

 

 

João Vicente Goulart lembra a chegada de Jango ao Uruguai, onde ele o aguardava junto a sua mãe e seu irmão. No dia 04 de abril de 1964, Jean estava com 7 anos. Ele afirma que Jango “não resistiu porque não havia condições de resistência” e considera que esse foi seu “grande triunfo” 50 anos após o Golpe. A entrevista faz parte do programa Caminhos da Reportagem da TV Brasil.

 

9 DE ABRIL

 

 

É declarado o Ato Institucional n° 1, que suspendeu por dez anos os direitos políticos de todos os cidadãos vistos como opositores ao regime, entre eles congressistas, militares e governadores.

Agência Nacional

 

11 DE ABRIL

 

 

O Marechal Castello Branco toma posse como presidente

Agência Nacional

 

 

APESAR DA JUSTIFICATIVA DE REESTABELECER A DEMOCRACIA, OS MILITARES MANTIVERAM UMA DITADURA POR 21 ANOS

 

1964: UM GOLPE NA DEMOCRACIA

 

Pesquisa e reportagem: Leandro Melito

Edição: Amanda Cieglinski e Lauro Mesquita

Produção visual: Alexandre Krecke, Antonio Trindade, Dinho Rodrigues e Douglas Curinga

Implementação: Alexandre Krecke

Edição de imagens: Marcos Urupá

 

Fonte – EBC http://www.ebc.com.br/cronologia-do-golpe

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