“O Massacre da Granja de São Bento” aborda morte de guerrilheiros na ditadura

Lançado esta semana pela Cepe Editora, o livro do jornalista Luiz Felipe Campos revela novos detalhes sobre a emboscada que dizimou parte dos militantes do país em um sítio na cidade de Abreu e Lima (PE). Sergio Fernando Paranhos Fleury, um dos principais nomes da repressão e responsável pela ação, chegou aos guerrilheiros por meio do marinheiro José Anselmo dos Santos, um agente duplo conhecido como Cabo Anselmo, o “Kimble”.

A obra, que traz documentos e relatos de personagens, inclusive de Cabo Anselmo, é resultado de um trabalho de cinco anos do jornalista pernambucano. Ele entrevistou mais de 50 pessoas em diferentes países, como Brasil, Chile, Uruguai e Argentina.
A chacina de 8 de janeiro de 1973 foi responsável pela morte de seis militantes da VPR. Pauline Reichstul, Soledad Barrett, então companheira de Anselmo, Jarbas Pereira Marques, Eudaldo Gomes e José Manoel da Silva. No total, foram 32 tiros, sendo 14 deles na cabeça. Os jornais da época divulgaram o fato como um tiroteio. O corpo de outra vítima, Evaldo Luz, recebeu 20 disparos e foi achado posteriormente na zona rural de Olinda.
“A perícia se limitou a descrever a cena, dizendo quantos tiros cada um tinha levado e quantas cápsulas o revólver de cada um dos militantes tinha disparado. Foi um teatro com armas plantadas para simular a ocorrência de um tiroteio, quando na verdade o que houve foi uma execução”, relatou Campos ao UOL.
Cabo Anselmo foi figura central no processo de delação de mais de 200 militantes aos órgãos de repressão da época. Documentos da Aeronáutica revelados pela Folha de S. Paulo em 2012 dão conta de que Cabo Anselmo já era informante do regime antes mesmo de sua prisão por Fleury, em 1971. Para Campos, a data é um marco. “A partir daí, praticamente todos os militantes que se encontraram com Anselmo foram presos ou mortos pela repressão”, afirmou.
Em entrevista para o jornalista Flávio Costa, do UOL, Cabo Anselmo afirmou a cooperação com o regime. “Colaborei com o Estado legal, com a pátria, com a nação, consciente de que a Ditadura do Proletariado ou qualquer ditadura é contrária à liberdade. A motivação maior foram valores cristãos incutidos na infância”, disse.
Campos relata que apesar da desconfiança dos exilados da VPR sobre o Cabo, ele conseguiu convencer Onofre Pinto a regressar do exílio do Chile e levar a guerrilha para o Nordeste. O livro relata o agente como um sedutor, com alto poder persuasivo. “É claro que dá para notar também que ele é um mentiroso compulsivo, em toda nova entrevista ele apresenta uma versão diferente sobre os mesmos fatos”, afirma Campos.
A obra remonta ainda, a luta dos familiares dos guerrilheiros mortos para restabelecer a verdade do que aconteceu em janeiro de 1973.
Fonte – Portal Imprensa