Brasileiro que seria julgado por crime na ditadura morre antes da sentença



Publicado originalmente em 26/10/2021 11:38 - Thays Martins - Correio Braziliense

(foto: reprodução)

Átila Rohrsetzer poderia ser 1º brasileiro condenado por crime da ditadura na operação Condor

A justiça italiana foi informada nesta terça-feira (26/10) da morte do brasileiro Átila Rohrsetzer. O militar era o único brasileiro que estava sendo processado por crimes relacionados à Operação Condor e, caso condenado, seria o único brasileiro a enfrentar uma sentença por atos da ditadura militar, já que no Brasil, a Lei da Anistia impede a investigação sobre esses crimes.

O processo, que demorou uma década, teria seu encerramento nesta terça, mas um procurador informou à Corte que Átila Rohrsetzer morreu em agosto. Dessa forma, o julgamento foi suspenso e o processo será extinto. Uma nova audiência foi marcada para 29 de novembro para encerrar o caso. As informações são da agência EFE.

Átila Rohrsetzer, que tinha 91 anos e vivia em Santa Catarina, era acusado de participação no sequestro, tortura, assassinato e ocultação de cadáver do ítalo-argentino Lorenzo Ismael Viñas Gigli, em 1980. Pelos crimes, ele poderia ser condenado a prisão perpétua. Na época, ele trabalhava como diretor da Divisão Central de Informações do Rio Grande do Sul (DCI), que atuava em parceria com as áreas de segurança e informações do III Exército, e com o Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-CODI.

Quem era Viñas Gigli

Perseguido pela ditadura argentina, Viñas Gigli, que na época tinha 25 anos e tinha uma filha recém-nascida, estava em um ônibus tentando fugir para a Itália quando foi retirado por agentes do exército brasileiro na divisa da Argentina com o Brasil. O ítalo-argentino foi uma das vítimas da Operação Condor, uma aliança entre as ditaduras do Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai para troca de informações e prisioneiros iniciada na década de 1960. A última testemunha a vê-lo com vida foi Silvia Noemi Tolchinsky. Em seu depoimento, em 2018, ela disse que os dois estiveram presos no centro clandestino de detenção do Campo de Mayo, na Argentina, e ele informou que estava ali há 90 dias. Após isso, ele desapareceu.

Não se sabe o que aconteceu com ele, mas acredita-se que pode ter sido jogado sobre o Rio da Prata, prática comum durante a Operação Condor. “O Estado brasileiro reconheceu sua responsabilidade pela prisão e tortura de Viñas em 2 de agosto de 2005 em sessão na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP). O caso também consta do Dossiê Ditadura: mortos e desaparecidos políticos no Brasil (1964-1985), elaborado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (2009, 2ª ed.) e foi denunciado pela Conadep (Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas) da Argentina por meio do registro de nº 992.

No Relatório Final da CNV (Comissão Nacional da Verdade), divulgado em 2014, o nome de Rohrsetzer aparece relacionado à vítima”, constata o Instituto Vladimir Herzog. O processo, na Itália, teve início em 2007. Ao todo, foram denunciadas 146 pessoas por crimes cometidos na Operação Condor. Desses, 33 tornaram-se réus, incluído quatro brasileiros, porém todos morreram durante o processo.

 

Fonte – Estado de Minas